terça-feira, 16 de março de 2010

Paparoca checa

Como já disse anteriormente, aqui, a comida e boa. Alias, aquilo que um português comum chamaria de comida. O almoço e quente, e envolve a utilizacao de talheres, coisa que faz qualquer holandês perguntar: “mas tu vais conseguir trabalhar, depois de comer isso??” Já por varias vezes tive para enfiar uma lamparina nos holandeses incrédulos.
Aqui, o prato forte (forte, mesmo) e o goulash. Também há umas bolas que os ingleses chamam de dumplings e os alemães de Knoedel. Os panados também estão no topo das refeicoes tradicionais e convencionais. O (wiener) schnitzel não falta em qualquer menu de restaurante ou cantina. Pode ser de frango, porco, ou qualquer outra carne.
Ontem ao jantar, no restaurante colado ao hotel, pedi uns peitos de frango com queijo camembert. O dialogo que se seguiu foi surreal:
" Oh-fa-favo.... Queria uns peitos de frango com queijo.
- E para acompanhar, o que vai ser?
- O que sugere?
- Batata frita, batata assada, batata cozida, batata americana...."
Ou seja, bem-vindos ao batatal!

PS: mas os peitos de frango estavam bem bons, por sinal. Schlerp! :-)

WRC

Eu juro a pés juntos que nunca mais reclamo dos buracos das ruas de Lisboa. Aqui, há partes da estrada onde mais ha buracos do alcatrao. O nosso carro de aluguer e um golf, mas valia ser um jipe. Não que isso faca qualquer tipo de diferença para os condutores checos: com ou sem buracos, e sempre a andar. Em recta, em curva, com mais ou menos buracos, faça sol, chuva, neve ou granizo (já apanhamos isto tudo desde que aqui cheguei) e sempre pe na tábua. O meu colega tinha a mania que era acelera. Pobre holandês, como estava enganado. A única coisa que conseguiu ultrapassar ate agora foi um autotanque, que devia estar cheio ate acima. O nosso querido Golf deve sentir ultrajado: somos ultrapassados por tudo. Skodas, com 20 anos, Ladas, trotinetes, e ate um camião Tatra nos passou. O holandês deve julgar que o pedal do meio e o acelerador. Verdade seja dita, não acho que ele conduza a pisar ovos. O resto do pessoal e que anda mesmo sempre a rasgar. Não sei se existe algum piloto de rali checo de craveira internacional, mas concerteza há aqui muito candidatos. Alias, depois de fazer a estrada Kralupy-Rostoky um par de vezes, como a acreditar que a sigla do mundial de ralis –WRC- significa realmente “the World Rally is in Czech republic”.
E alguém pode por favor avisar os checos que teem de por asfalto nas estradas, em vez de queijo suico???

Mais um dia na refinaria

Isto de trabalhar numa refinaria tem que se lhe diga: entrar, e mais difícil que entrar na Imprensa Nacional Casa da Moeda. La dentro, e preciso (literalmente) mas se conseguir andar para trás e para a frente. Sinais de perigo, explosão, e afins há em todo o lado. Ate abrir a porta do edifício tem manha: temos de carregar num botãozinho que há de lado, que acciona o motor de abertura da porta: se alguém pisar os tapetes em frente a porta, o movimento e interrompido. Eu, o maçarico de serviço, perguntei: “Para que tanta coisa para abrir uma porta? –E que isto e uma porta anti-explosao. Se aquilo que esta ali fora rebentar, isto e suposto proteger-nos.” Ah pois, sinto-me muito mais confiante. Sobretudo quando “aquilo que esta ali fora e uma torre de 30 metros de altura, cheia de tubos com saídas de vapor que fazem a estrutura parecer um misto de cobra com dragão. Claro que se aquilo rebenta, tenho a sensacao que do edifício onde estamos a trabalhar, so fica o sitio. Mas adiante.
Isto e um sitio de homens de barba rija. Os “operadores” são os tipos que andam “la fora” com equipamento de segurança: capacetes, orelhas de mickey (alguns), uns fatos de ski, e botas de biqueira de aço que fazem as minhas botas de montanha tamanho 45 parecerem umas sapatilhas de ballet. O cheiro de alguns deles e…como dizer… anestesiante. As mãos de alguns operadores são autênticos portentos: como diz o meu chefe, quando teclam, carregam em 4 teclas de cada vez. Os checos não são especialmente grandes, sobretudo para alguém que vem da Holanda. Mas estes tipos teem um ar sólido, robusto. O sitio onde eu trabalho, e o jardim de infância ca do sitio: a sala de engenharia. E aqui quem um monte de totós com borbulhas se junta (ou melhor, se empilha) para fazer a manutencao dos sistemas que põem isto a trabalhar. No resto do edifício, esta a sala de controlo, que parece uma copia da ponte de comando da USS Entreprise, do Star Trek. Não fosse o Capitão Spock ser substituído por um operador de 2mx2m. A tecnologia que esta de facto na sala de controlo, mesmo numa baiuca de uma refinaria checa, e impressionante. E verdade que eu trabalho para a empresa que faz os sistemas de controlo, mas nunca tinha visto ao vivo e a cores uma sala de controlo em operacao. Cada posto de controlo tem 6 ecrans de 20 polegadas, montados por cima da cabeça do operador. Por baixo esta o teclado, o rato, uma consola de botões dedicados – que mais parece um teclado para crianças- um conjunto de botões com uma capa protectora de plástico por cima, e um telefone VERMELHO. O que me disseram e que quando aquele telefone toca, não e concerteza o António Sala a fazer a chamada do Jogo da Mala, e tem de ser atendido aconteça o que acontecer. Na minha terra, isto significa: se aquilo toca enquanto eu ca estiver, bato o record dos 100 metros para chegar ao portão e sair daqui o mais depressa possível.
Ainda assim, acho que o maior risco da refinaria e alguém estar junto do portão perto da hora da mudança de turno. Como qualquer estrutura deste género, a forca laboral trabalha por turnos. Aqui, há um turno das 6h as 14h, e outro das 14h as 22h. Eu estava a chegar do almoço perto das 14h (sim, na Rep. Checa há almoço em condicoes) e quase fui atropelado por dezenas de operadores em fúria, a pe, de carro, de bicicleta, de mota…. Acho que o único veiculo que não saiu aos tropeços das portas das refinarias foi um tractor. Mas deve ter sido porque não estava a prestar a devida atencao.
A viding de um informático por aqui – entenda-se dentro da sala de engenharia- não e muito diferente da realidade de qualquer outra empresa. Instala o software, passa o CD, pergunta se o cabo tem rede. Nos estamos ca para instalar a nova versão do software de controlo, e portanto temos que esperar que montem as novas maquinas, testar os cabos, fazer as 500 configuracoes necessárias para podermos por tudo a funcionar. E aqui as coisas não acontecem depressa. Afinal, isto e uma empresa publica.


O hotel -por seu lado- melhorou. Finalmente, o quarto esta a uma temperatura razoável, a bicha do chuveiro já não perde 80% da agua pelo caminho, e já tenho luz dos 2 lados do candeeiro da casa de banho. Claro que ninguém se deu ao trabalho de fazer a cama em condicoes, nem de substituir o copo onde eu no dia anterior bebi laranjada. Isso não interessa nada.
Como hoje já não éramos so 3 no hotel, as 7 da manha já havia pequeno-almoco pronto. Claro que houve os seus precalcos. Os ovos mexidos/estrelados/bacon/salsichas estavam em tabuleiros aquecidos, havia as carnes frias também, obviamente não faltavam os classicos pimento/pepino/tomate, e queijo. So que estava INTEIRO. E sem vislumbre de tábua ou faca nas imediacoes. Será que sou suposto cortar o queijo com golpe de karate? La tive eu de me remeter aos triângulos de Vache-qui-rit. E pão? Pois, quase que tive de invadir a cozinha para conseguir o pão. E acucar para meter no café? Escondido atrás do bar.
Será que sou eu que sou rezingão as 7 da manha? Ou pedir pão e acucar ao pequeno almoço e pedir algo de anormal?
Com um pouco de recuo, isto esta a melhorar: o duche já esta mais que bom, já faço consigo ver a barba, e já há algo que se coma quando se vai para o pequeno-almoco.
La para o final da semana, já não devo ter nada que reclamar. Ou então já me habituei a isto. Ao menos, estou a tirar a barriga de misérias das sanduíches holandesas. A comida aqui e boa.

Hradcany – parte 3

La vou eu mais uma vez a caminho de Praga!
Ou melhor, já ca estou.

E la estou eu a mentir outra vez: desta vez, a única coisa que vi de Praga foi o…aeroporto. Bom, vamos começar pelo principio: tive de vir instalar o software da minha companhia a um cliente. O cliente e a Galp, versão checa. Estava eu todo contente de ir parar a uma cidade interessante como Praga, a conta da empresa, coisa relativamente rara para quem anda no mundo do software.
Claro que isto eram as minhas aspiracoes de maçarico. Eu faço software para refinarias, e portanto, “a refinaria de Praga” não fica propriamente no Bairro Alto ca do sitio, mas sim a 30km da cidade, no meio de nenhures, perto de uma aldeiazeca chama Kralupy. O hotel também não e propriamente central: por uma razão que eu desconheço, fomos parar a outro buraco perdido nas imediacoes de Praga, chamado Rostoky. Digamos que e uma zona rural, com uma ilha de prédios a volta da estacão de quim-boio. Nessa ilha, esta o Hotel Academic. Aspecto moderno. Por dentro e por fora.
Para quem viu o Bloco de Leste e o seu aprimorado sector hoteleiro em 91, isto e uma revelacao. Uma recepcionista que fala inglês, alcatifa, cartões com chip para entrar nos quartos… Enfim, um hotel convencional.
Claro que há coisas que não mudam: assim que entro no quarto, com 2 camas de solteiro, noto que as camas estão feitas a maneira checa –ou seja- com o edredon dobrado ao fundo da cama. Dirijo-me a cama da direita, puxo a almofada e dou conta que o lençol que deveria cobrir o colchão fica 40 cms abaixo do desejado. Quem quiser dormir naquela cama, ou usa almofada, ou enfia a cara no colchão. Ora bem. Cantando e rindo, la me dirigi para a outra cama. Olho para cima: no tecto falso, onde deveria estar a estrutura do candeeiro embutido, esta de facto uma lâmpada fluorescente. Do resto da estrutura….esta la o sitio. E por trás, uma linda paisagem de cabos industriais a passar soltos por cima do tecto falso.
Claro que tudo e relativo: reclama-se das pequenas coisas… mas isto não e nada comparado com o que era antes, e muito menos com aquilo que vi em Goa, onde havia agua quente 4h por dia, os rolos de papel higiénico pareciam amostras, e quando me sentei na cama….ela partiu. Reclamar dos pequenos detalhes checos? Nem pensar!

6h30, alvorada. Aos zigzags, la vou eu a procura da casa de banho. Uma das luzes por cima da bancada esta fundida, portanto hoje so devo ter a barba bem feita de um dos lados; do outro devem faltar bocados, e ter pelo soltos no que resta. Duche: abro a torneira e ouço uma torrente de agua, quente e tudo. Nada como um duche valente de manha para acordar. Salto para dentro da banheira, e com agarro no chuveiro, a agua sai com uma pressão irrisória. Quente, mas parecia que a agua que há segundos eu tinha visto a jorrar da torneira se tinha assustado com a minha cara de sono, e insistia em não sair. Mas como dava para tomar banho confortavelmente, nem liguei muito. A meio do duche, percebi o mistério: a bicha tinha uma fuga descomunal, e portanto a agua deslizava do lado de fora, para baixo. Eu so apanhava com o resquício que não fugia.
A parte surreal esta no facto de sermos apenas 3 hospedes em todo o hotel naquele momento. Não haveria nenhuma razão para ter um quarto a cair aos bocados.
Hora do pequeno almoço: como o colega holandês fez questão, la estava eu as 7 em ponto na sala do pequeno-almoco. O mesmo não se podia dizer do pequeno-almoco propriamente dito. Havia uma arvore com taças de vários tipos de cereais de pequeno almoço, uma maquina de café, e uma maquina de sumos. O resto…nada. E também não havia vivalma a vista. La esperamos um bocado, e apareceu um empregado vestido de pinguim com laçarote, com 2 pratos com algumas carnes frias, umas fatias de tomate, pimento e pepino. Já vi que nesta terra pimento vermelho e pepino nunca falta, seja qual for a hora do dia. Na viagem seguinte, la trouxe um cestinho de pão, umas manteigas e afins. E depois perguntou: “Ovos estrelados? Mexidos? Bacon frito?” Uma vez que não tinha jantado, eu disse que sim aos ovos estrelados. E ele la desapareceu mais uma vez. Deve ter ido fazer cócegas as galinhas para elas porem os ovos porque os ovos demoraram pelo menos 20 minutos ate aparecerem.
Depois do épico pequeno almoço em fascículos, la nos fizemos a estrada ( forrada a queijo suico, de tanto buracos que há nesta terra) a caminho da refinaria, para começar a jornada de trabalho.