quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Veiculo de substituicao

O meu fiel Abobora, ou seja, o meu carro, estava a precisar de mudar de oleo. Como sempre, esta operacao esta longe de ser trivial: para alem do Abobora ser um bebado inveterado (bebe 6,5 litros de oleo), o oleo tem de ser de uma referencia especial, tem de levar um filtro "reciclavel" que tambem nao e trivial de encontrar, e a oficina tem que ter um computador para avisar o sistema do carro que o oleo foi trocado. Pode ser tudo mariquices, mas eu trato bem o meu bichinho.
Maos-a-obra, perguntar aos amigos quais sao as oficinas de referencia, descobrir se tem tudo o que e preciso, e -mais dificil- encontrar uma que fique perto dos sitios por onde ando. Depois de uns dias atarefado, la encontrei o sitio certo. Fui la fazer uma visita, e pareceu-me um sitio profissional. Fiz as 500 perguntas da praxe, mas fiquei convencido: marquei a intervencao cirurgica para esta manha.

As 10 da manha, la estava eu a entregar o Abobora. Vejo um mecanico com um carrinho tipo de mesa com todos os componentes que eu tinha pedido, e de facto eram os correctos. Caros pra burro, mas eram os correctos. "Assine aqui, de ca a chave, isto demora 2h30 mais-ou-menos, e nos ligamos quando tiver pronto" - disse o recepcionista. Bom, tudo normal. E depois eu pergunto:
"Bom, e agora como e que eu saio daqui para ir para o escritorio?
- Olhe, ha ali uma paragem de autocarro. Mas nos temos veiculo de substituicao de graca, se quiser...
- Olhe, isso e uma grande ideia! Vamos nessa!
- Ok, tome la a chave... Esta atras de si."
Eu olho pra chave, de 3 cms, a pensar : "isto nao pode ser de um carro normal..." CARRO? Eu olho pra tras, e la estava um par de biclas pasteleiras (novinhas em folha, entenda-se) para uso dos clientes. Bom, de facto, sao veiculos de substituicao, nao sao? E, pronto, la fui a pedalar para o escritorio...
Bem-vindo a Holanda!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

As escuras

O tiro de partido para a Restaurant Week de verao foi no CTaste, mais conhecido como o Restaurante-as-escuras.

A alcunha deriva do facto do restaurante ter a sala de jantar ...bem...as escuras! E nao falo de sombra, penumbra, lusco-fusco ou algo semelhante. Trata-se sim do escuro-como-breu, mina-de-carvao, nao-vejo-um-palmo-a-frente-do-nariz tipo de visibilidade. Os empregados sao (mesmo) cegos, e as entradas na sala de jantar estao construidas de forma a nao deixar entrar um raio de luz do exterior.
Para ajudar a festa, e talvez porque seja dificil ler o menu no escuro, a ementa e surpresa. Na zona de acolhimento, o chefe de sala pergunta se temos alguma alergia, e se comemos o que nos meterem a frente. Obvio! Desde que nao seja polvo-chocos e lulas, marcha tudo.... Tambem perguntam o que queremos beber. Ai a escolha ja comeca a ser mais estrategica. Embora nao seja clliente de vinhos, e me fique frequentemente pela Cocaquinha Frescola, e de pensar se quero sair de la potencialmente encharcado em cola. Naaaa.... acho que desta vez me fico pela agua. Nao sei porque, sinto-me virado para o saudavel!

Antes de comecarem as festividades e depois do briefing, toca de largar tudo o que possa fazer luz num cacifo de ginasio, e esperar pela boleia. "Ai sao voces os da mesa 3? Entao um de voces de ca a mao, e o resto metam a mao no ombro da pessoa que esta a frente. E aqui vamos nos!" Isto pode parecer algo saido de uma das diversoes da Feira Popular, mas estamos de facto num dos restaurantes mais requisitados de Amsterdao.
Assim que se abre a cortina, comeca o filme. Ou melhor, a falta dele! Nao se ve mesmo nada. Tudo a andar com passinhos minusculos, com medo de tropecar em algo que nao esta la. O empregado agarra-nos na mao, e coloca-a na nossa respectiva cadeira. Depois, vem trazer os copos, que coloca sobre o ombro para nos podermos agarrar facilmente:
"Querem que sirva a agua?
- Deixe estar, a gente trata disso....."
Claro que assim que ele nos passa a garrafa para a mao, ja nos arrenpendemos do que dissemos. Abrir a garrafa no escuro, (re)encontrar o copo e descobrir como por agua suficiente no copo (minusculo por sinal) sem deitar por fora. Quando nao se tem ideia nem do formato do copo, ate saber se o dito esta nivelado e um desafio. E -de forma pragmatica- toca de servir a agua com um dedo dentro do copo.
Chegam as entradas. E qual uma eliminatoria do Jogos-sem-Fronteiras em que alguem se esqueceu de pagar a conta da luz, la partimos nos a descoberta do que estava no prato. Garfada aqui, garfada ali, o cerebro tenta avaliar o que esta a nossa frente. A cada dentada vem um enigma: que raio e isto que eu tou a comer? Peixe, ok... mas qual peixe? So quando nos vemos nestas embrulhadas e que percebemos que o sabor e apenas uma parte do que comemos. A textura ajuda bastante, mas falta a cor, o formato, e a expectativa. A gamba foi facil, o peixe era peixe, e uma dentada que sabia a sushi deixou me intrigado. Dilema seguinte? Como e que sabemos que ja comemos tudo? Nada facil, nada facil...
Prato principal: "Ponham as maozinhas no colo, enquanto eu troco os pratos!" E aqui vamos nos, mais-uma-moeda-mais-uma-voltinha. Primeira sondagem, uma coisa grande. Demasiado grande para vir agarrada de uma so vez ao garfo. Toca a usar pela primeira vez a faca, mas com cuidado... E bife! e com um molho adocicado em cima. Mais do que isto, seria pedir demais. A volta, vegetais crocantes, em formato de chocapic, e uma coisa qualquer que sabia a batata, mas nao nem pure de batatas, nem batatas fritas. OK, come-se. Isto da falta de cor mata-me. Um vegetal tem de ser verde, cum caneco!
Por esta altura, ja o cerebro tinha tentado colocar uma cara no empregado, uma cor na parede, uma textura na parede, um volume e um formato na sala de jantar. Ouvem-se os outros convivas, sem haver interaccao directa. E o facto de ser em holandes, tambem nao ajuda. Damos por nos a adoptar a linguagem corporal que facilmente reconhecemos nos cegos: quando alguem fala connosco, nao apontamos o nariz nessa direccao, nao olhamos para o interlocutor. Curioso, como o comportamento muda depressa dadas as circunstancias.
Hora da sobremesa! Mais uma investigacao cuidada de um prato surpresa, desta vez, com uma colher. Avisado que haveria uma espetada algures no prato, toca de ir a volta. No meio do prato, uma tacinha com um creme la dentro: inconfundivel, alguma coisa de banana. Tao banana, tao banana que ate dava para ver o amarelo. Estrategicamente, tiro a taca para o lado de fora do prato, mas nao para muito longe, nao se va a mesa acabar sem aviso. Proxima descoberta no prato, um monte de algo fofo, nao compacto. Toca de experimentar: peta-zetas! Era a ultima coisa que podia esperar numa sobremesa. No escuro, o barulho que as peta-zetas fazem no fundo da boca e ensurcedor: deixa de se ouvir o ruido de fundo da sala de jantar. Mal se ouve a pessoa que esta ao nosso lado. Mas acaba por passar. Refeito da surpresa e do choque, toca de acabar a sobremesa. De facto, estava la uma espetada de morango, com a classica cobertura de chocolate. Os outros montinhos do prato tinham cubinhos de caramelos e uma bolacha que sabia a Daim do IKEA.
"Querem cafe, cha...? diz a voz do empregado misterio.
-No escuro??? Voce deve tar mas e maluco.... Nem acertar com a colher na chavena eu era capaz. Deixe la tar isso, homem!" Obviamente, ele riu-se e foi embora. Quando voltou, la nos pos outra vez em comboinho e levou ate a saida. Saimos com cara de esgroviados, como tinhamos visto os clientes que nos precederam. Depois de nos habituarmos a luz, e resgatarmos os nossos haveres do cacifo de ginasio, la fomos para o debriefing descobrir o que nos tinha calhado na rifa. Ou melhor, na barriga!
O peixe afinal era truta salmonidea, com um mega camarao, uma vieira, e um bocado de atum sashimi-style. Eu bem dizia que aquilo sabia a sushi! O bife afinal era de avestruz. Cum raio, tenho que ir a um restaurante as escuras para experimentar avestruz... La pelo meio tambem havia uma tarte de batata doce, e o molho em cima tinha morango. Na sobremesa, eles nao disseram propriamente que eram peta-zetas, mas tambem nao era preciso. E de facto, era uma espetada de morangos, com fusge a volta. Por este andar, eu ja esperava que me dissessem que eu tinha comido cactos do Sahara com ovos de codorniz, mas nao... a sobremesa nao continha surpresas inesperadas.
Isto nao foi um jantar...isto foi uma experiencia sensorial. Ou melhor, uma experiencia assensorial. So depois de passar por uma destas, e que se da a devida atencao a quantidade de informacao que nos temos para alem daquilo que metemos na boca. Para nao falar da luta que e para se conseguir comer algo que nao nos deixam ver.

Mais uma historia para contar ao netos.....e que eu recomendo vivamente!

Restaurant Week Amsterdam

Duas vezes por ano, os restaurantes sincronizam-se e abrem as portas num evento chamado Restaurant Week. Sob reserva online, o comum mortal podera jantar um menu entrada-paparoca-sobremesa por 25 euros. Mais bebidas. Independentemente dos precos normais do estabelecimento, e da sua categoria. Obviamente, assim que as reservas ficam disponiveis os restaurantes triques-a-beirinha e armados-ao-pingarelho esgotam.... Ou nao fossem os holandeses adorar fazer reservas e planos com SEMANAS de antecendias. Isto demora algum tempo a interiorizar a uma pobre alma lusitana...simplesmente nao esta nos nossos genes.
Para poder aproveitar a Restaurant Week, o bloguista de servico - ou seja...eu - faz aleatoriamente reservas em restaurantes ainda nao visitados. Alguns serao uma bela treta, concerteza, e outros uma agradavel surpresa. Depois, toca a encontrar convivas -que geralmente nao e dificil- e a arruma-los consoante os interesses por cada dia da semana.
E, claro, dizer adeus a dieta por 1 semana!

Restaurant Week Summer 2010, aqui vou eu!!!

terça-feira, 16 de março de 2010

Paparoca checa

Como já disse anteriormente, aqui, a comida e boa. Alias, aquilo que um português comum chamaria de comida. O almoço e quente, e envolve a utilizacao de talheres, coisa que faz qualquer holandês perguntar: “mas tu vais conseguir trabalhar, depois de comer isso??” Já por varias vezes tive para enfiar uma lamparina nos holandeses incrédulos.
Aqui, o prato forte (forte, mesmo) e o goulash. Também há umas bolas que os ingleses chamam de dumplings e os alemães de Knoedel. Os panados também estão no topo das refeicoes tradicionais e convencionais. O (wiener) schnitzel não falta em qualquer menu de restaurante ou cantina. Pode ser de frango, porco, ou qualquer outra carne.
Ontem ao jantar, no restaurante colado ao hotel, pedi uns peitos de frango com queijo camembert. O dialogo que se seguiu foi surreal:
" Oh-fa-favo.... Queria uns peitos de frango com queijo.
- E para acompanhar, o que vai ser?
- O que sugere?
- Batata frita, batata assada, batata cozida, batata americana...."
Ou seja, bem-vindos ao batatal!

PS: mas os peitos de frango estavam bem bons, por sinal. Schlerp! :-)

WRC

Eu juro a pés juntos que nunca mais reclamo dos buracos das ruas de Lisboa. Aqui, há partes da estrada onde mais ha buracos do alcatrao. O nosso carro de aluguer e um golf, mas valia ser um jipe. Não que isso faca qualquer tipo de diferença para os condutores checos: com ou sem buracos, e sempre a andar. Em recta, em curva, com mais ou menos buracos, faça sol, chuva, neve ou granizo (já apanhamos isto tudo desde que aqui cheguei) e sempre pe na tábua. O meu colega tinha a mania que era acelera. Pobre holandês, como estava enganado. A única coisa que conseguiu ultrapassar ate agora foi um autotanque, que devia estar cheio ate acima. O nosso querido Golf deve sentir ultrajado: somos ultrapassados por tudo. Skodas, com 20 anos, Ladas, trotinetes, e ate um camião Tatra nos passou. O holandês deve julgar que o pedal do meio e o acelerador. Verdade seja dita, não acho que ele conduza a pisar ovos. O resto do pessoal e que anda mesmo sempre a rasgar. Não sei se existe algum piloto de rali checo de craveira internacional, mas concerteza há aqui muito candidatos. Alias, depois de fazer a estrada Kralupy-Rostoky um par de vezes, como a acreditar que a sigla do mundial de ralis –WRC- significa realmente “the World Rally is in Czech republic”.
E alguém pode por favor avisar os checos que teem de por asfalto nas estradas, em vez de queijo suico???

Mais um dia na refinaria

Isto de trabalhar numa refinaria tem que se lhe diga: entrar, e mais difícil que entrar na Imprensa Nacional Casa da Moeda. La dentro, e preciso (literalmente) mas se conseguir andar para trás e para a frente. Sinais de perigo, explosão, e afins há em todo o lado. Ate abrir a porta do edifício tem manha: temos de carregar num botãozinho que há de lado, que acciona o motor de abertura da porta: se alguém pisar os tapetes em frente a porta, o movimento e interrompido. Eu, o maçarico de serviço, perguntei: “Para que tanta coisa para abrir uma porta? –E que isto e uma porta anti-explosao. Se aquilo que esta ali fora rebentar, isto e suposto proteger-nos.” Ah pois, sinto-me muito mais confiante. Sobretudo quando “aquilo que esta ali fora e uma torre de 30 metros de altura, cheia de tubos com saídas de vapor que fazem a estrutura parecer um misto de cobra com dragão. Claro que se aquilo rebenta, tenho a sensacao que do edifício onde estamos a trabalhar, so fica o sitio. Mas adiante.
Isto e um sitio de homens de barba rija. Os “operadores” são os tipos que andam “la fora” com equipamento de segurança: capacetes, orelhas de mickey (alguns), uns fatos de ski, e botas de biqueira de aço que fazem as minhas botas de montanha tamanho 45 parecerem umas sapatilhas de ballet. O cheiro de alguns deles e…como dizer… anestesiante. As mãos de alguns operadores são autênticos portentos: como diz o meu chefe, quando teclam, carregam em 4 teclas de cada vez. Os checos não são especialmente grandes, sobretudo para alguém que vem da Holanda. Mas estes tipos teem um ar sólido, robusto. O sitio onde eu trabalho, e o jardim de infância ca do sitio: a sala de engenharia. E aqui quem um monte de totós com borbulhas se junta (ou melhor, se empilha) para fazer a manutencao dos sistemas que põem isto a trabalhar. No resto do edifício, esta a sala de controlo, que parece uma copia da ponte de comando da USS Entreprise, do Star Trek. Não fosse o Capitão Spock ser substituído por um operador de 2mx2m. A tecnologia que esta de facto na sala de controlo, mesmo numa baiuca de uma refinaria checa, e impressionante. E verdade que eu trabalho para a empresa que faz os sistemas de controlo, mas nunca tinha visto ao vivo e a cores uma sala de controlo em operacao. Cada posto de controlo tem 6 ecrans de 20 polegadas, montados por cima da cabeça do operador. Por baixo esta o teclado, o rato, uma consola de botões dedicados – que mais parece um teclado para crianças- um conjunto de botões com uma capa protectora de plástico por cima, e um telefone VERMELHO. O que me disseram e que quando aquele telefone toca, não e concerteza o António Sala a fazer a chamada do Jogo da Mala, e tem de ser atendido aconteça o que acontecer. Na minha terra, isto significa: se aquilo toca enquanto eu ca estiver, bato o record dos 100 metros para chegar ao portão e sair daqui o mais depressa possível.
Ainda assim, acho que o maior risco da refinaria e alguém estar junto do portão perto da hora da mudança de turno. Como qualquer estrutura deste género, a forca laboral trabalha por turnos. Aqui, há um turno das 6h as 14h, e outro das 14h as 22h. Eu estava a chegar do almoço perto das 14h (sim, na Rep. Checa há almoço em condicoes) e quase fui atropelado por dezenas de operadores em fúria, a pe, de carro, de bicicleta, de mota…. Acho que o único veiculo que não saiu aos tropeços das portas das refinarias foi um tractor. Mas deve ter sido porque não estava a prestar a devida atencao.
A viding de um informático por aqui – entenda-se dentro da sala de engenharia- não e muito diferente da realidade de qualquer outra empresa. Instala o software, passa o CD, pergunta se o cabo tem rede. Nos estamos ca para instalar a nova versão do software de controlo, e portanto temos que esperar que montem as novas maquinas, testar os cabos, fazer as 500 configuracoes necessárias para podermos por tudo a funcionar. E aqui as coisas não acontecem depressa. Afinal, isto e uma empresa publica.


O hotel -por seu lado- melhorou. Finalmente, o quarto esta a uma temperatura razoável, a bicha do chuveiro já não perde 80% da agua pelo caminho, e já tenho luz dos 2 lados do candeeiro da casa de banho. Claro que ninguém se deu ao trabalho de fazer a cama em condicoes, nem de substituir o copo onde eu no dia anterior bebi laranjada. Isso não interessa nada.
Como hoje já não éramos so 3 no hotel, as 7 da manha já havia pequeno-almoco pronto. Claro que houve os seus precalcos. Os ovos mexidos/estrelados/bacon/salsichas estavam em tabuleiros aquecidos, havia as carnes frias também, obviamente não faltavam os classicos pimento/pepino/tomate, e queijo. So que estava INTEIRO. E sem vislumbre de tábua ou faca nas imediacoes. Será que sou suposto cortar o queijo com golpe de karate? La tive eu de me remeter aos triângulos de Vache-qui-rit. E pão? Pois, quase que tive de invadir a cozinha para conseguir o pão. E acucar para meter no café? Escondido atrás do bar.
Será que sou eu que sou rezingão as 7 da manha? Ou pedir pão e acucar ao pequeno almoço e pedir algo de anormal?
Com um pouco de recuo, isto esta a melhorar: o duche já esta mais que bom, já faço consigo ver a barba, e já há algo que se coma quando se vai para o pequeno-almoco.
La para o final da semana, já não devo ter nada que reclamar. Ou então já me habituei a isto. Ao menos, estou a tirar a barriga de misérias das sanduíches holandesas. A comida aqui e boa.

Hradcany – parte 3

La vou eu mais uma vez a caminho de Praga!
Ou melhor, já ca estou.

E la estou eu a mentir outra vez: desta vez, a única coisa que vi de Praga foi o…aeroporto. Bom, vamos começar pelo principio: tive de vir instalar o software da minha companhia a um cliente. O cliente e a Galp, versão checa. Estava eu todo contente de ir parar a uma cidade interessante como Praga, a conta da empresa, coisa relativamente rara para quem anda no mundo do software.
Claro que isto eram as minhas aspiracoes de maçarico. Eu faço software para refinarias, e portanto, “a refinaria de Praga” não fica propriamente no Bairro Alto ca do sitio, mas sim a 30km da cidade, no meio de nenhures, perto de uma aldeiazeca chama Kralupy. O hotel também não e propriamente central: por uma razão que eu desconheço, fomos parar a outro buraco perdido nas imediacoes de Praga, chamado Rostoky. Digamos que e uma zona rural, com uma ilha de prédios a volta da estacão de quim-boio. Nessa ilha, esta o Hotel Academic. Aspecto moderno. Por dentro e por fora.
Para quem viu o Bloco de Leste e o seu aprimorado sector hoteleiro em 91, isto e uma revelacao. Uma recepcionista que fala inglês, alcatifa, cartões com chip para entrar nos quartos… Enfim, um hotel convencional.
Claro que há coisas que não mudam: assim que entro no quarto, com 2 camas de solteiro, noto que as camas estão feitas a maneira checa –ou seja- com o edredon dobrado ao fundo da cama. Dirijo-me a cama da direita, puxo a almofada e dou conta que o lençol que deveria cobrir o colchão fica 40 cms abaixo do desejado. Quem quiser dormir naquela cama, ou usa almofada, ou enfia a cara no colchão. Ora bem. Cantando e rindo, la me dirigi para a outra cama. Olho para cima: no tecto falso, onde deveria estar a estrutura do candeeiro embutido, esta de facto uma lâmpada fluorescente. Do resto da estrutura….esta la o sitio. E por trás, uma linda paisagem de cabos industriais a passar soltos por cima do tecto falso.
Claro que tudo e relativo: reclama-se das pequenas coisas… mas isto não e nada comparado com o que era antes, e muito menos com aquilo que vi em Goa, onde havia agua quente 4h por dia, os rolos de papel higiénico pareciam amostras, e quando me sentei na cama….ela partiu. Reclamar dos pequenos detalhes checos? Nem pensar!

6h30, alvorada. Aos zigzags, la vou eu a procura da casa de banho. Uma das luzes por cima da bancada esta fundida, portanto hoje so devo ter a barba bem feita de um dos lados; do outro devem faltar bocados, e ter pelo soltos no que resta. Duche: abro a torneira e ouço uma torrente de agua, quente e tudo. Nada como um duche valente de manha para acordar. Salto para dentro da banheira, e com agarro no chuveiro, a agua sai com uma pressão irrisória. Quente, mas parecia que a agua que há segundos eu tinha visto a jorrar da torneira se tinha assustado com a minha cara de sono, e insistia em não sair. Mas como dava para tomar banho confortavelmente, nem liguei muito. A meio do duche, percebi o mistério: a bicha tinha uma fuga descomunal, e portanto a agua deslizava do lado de fora, para baixo. Eu so apanhava com o resquício que não fugia.
A parte surreal esta no facto de sermos apenas 3 hospedes em todo o hotel naquele momento. Não haveria nenhuma razão para ter um quarto a cair aos bocados.
Hora do pequeno almoço: como o colega holandês fez questão, la estava eu as 7 em ponto na sala do pequeno-almoco. O mesmo não se podia dizer do pequeno-almoco propriamente dito. Havia uma arvore com taças de vários tipos de cereais de pequeno almoço, uma maquina de café, e uma maquina de sumos. O resto…nada. E também não havia vivalma a vista. La esperamos um bocado, e apareceu um empregado vestido de pinguim com laçarote, com 2 pratos com algumas carnes frias, umas fatias de tomate, pimento e pepino. Já vi que nesta terra pimento vermelho e pepino nunca falta, seja qual for a hora do dia. Na viagem seguinte, la trouxe um cestinho de pão, umas manteigas e afins. E depois perguntou: “Ovos estrelados? Mexidos? Bacon frito?” Uma vez que não tinha jantado, eu disse que sim aos ovos estrelados. E ele la desapareceu mais uma vez. Deve ter ido fazer cócegas as galinhas para elas porem os ovos porque os ovos demoraram pelo menos 20 minutos ate aparecerem.
Depois do épico pequeno almoço em fascículos, la nos fizemos a estrada ( forrada a queijo suico, de tanto buracos que há nesta terra) a caminho da refinaria, para começar a jornada de trabalho.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Amsterdam below zero

Isto anda fresquinho por aqui...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Nao ha duas sem tres

...ja dizia o ditado. Por vezes tarda, mas nao falha.

Quando descobri que vinha parar a Holanda, pedi aos colegas da empresa em Portugal se me podiam facultar o contacto de alguem que ja estivesse por terras holandesas, afim de perguntar como era o tempo, o que devia trazer, e o resto das questoes operacionais. A resposta que ouvi foi imediata: "Ah! Ligas a Chucha, que ela diz-te tudo o que precisas!". Chucha?!? Sim, havia uma colega chamada Chucha, e que por acaso foi quem me apresentou o resto da equipa da Orange. Os leitores mais assiduos lembrar-se concerteza do Primeiro Jantar na Holanda.

Na Orange, fui logo apresentado a multidao de portugueses que por la andavam (chegamos a ser 12) e fui conhecendo o resto aos poucos. Ao segundo ou terceiro dia, esbarro com uma italiana de sorriso fofinho e muito, mas muito, timida. Nome? Laura Rota, pois entao. Nao rebolei a rir durante 3 dias porque nao calhou...

Agora, estou numa empresa que e so homens. Sim, mesmo estando habituado a empresas de informatica, isto e a industria do pitroil. Em toda a equipa, ha uma rapariga, que nao sei bem como e que aqui veio parar, e a secretaria, que mais parece um buldozer, ao mais puro estilo holandes. Ao pe dela, eu sou um tipo fofinho e cor-de-rosa.
Ha umas semanas, apareceram por aqui umas caras novas. Entre elas, uma miuda novinha, de caracois pretos, que bem podia ser portuguesa ou espanhola. Passava por mim a caminho da maquina do cafe, mas eu nunca percebi de onde vinha a peca. No inicio desta semana chegou outra igual, e portanto passaram a ir aos pares a...... maquina do cafe. Umas vezes falavam uma cena estranha -mesmo, mesmo estranha- e as vezes frances. Numa das rondas da hora de almoco ao super-mercado, elas calharam vir no meu grupo. O holandes que trabalha ao meu lado ha 4 meses perguntou de onde e que eu era: Portugal, aquele jardimzinho ha beira mar plantado, tas a ver? E por cortesia, perguntei de onde elas vinham tambem: da Tunisia! Excelente razao para terem cabelo escuro e falarem uma lingua estranha.... Mudados para frances, meter a conversa em dia, com os peru-menores de como e que viemos aqui parar e o que estamos ca a fazer. Quando regressamos a base, eu ja sabia quase tudo da vida delas, excepto o nome:
"Entao como e que voces se chamam? Eu sou Hugo, muito prazer.
-Ah, nos temos o mesmo nome. E Asma....."

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Doisneau em LEGO



E sempre bom quando vemos alguem que partilha os mesmos interesses que nos. Melhor ainda, e quando descobrimos alguém que os consegue combinar. Isso sim, e de valor.

O Holandês Rastejante – ou seja, a minha humilde pessoa – e um grande fa de LEGOs desde tenra idade, e faz da fotografia um dos seus hobbies. Julgava eu que seria difícil combinar os dois, para alem de tirar as fotografias dos catálogos que colecciono avidamente desde que me conheço por gente. Reconheço o desafio técnico de fotografar as pecinhas coloridas, tal como qualquer pessoa que já fotografou em estúdio: devido a grande quantidade de arestas bem delineadas, fotografar uma cena em LEGO e um pincel porque fica cheia de sombras. Com luz a mais, a imagem mais parece um desenho animado de segunda qualidade.

Ate que alguém decidiu reinventar a roda: recriar as obras classicas dos grandes mestres da fotografia (Robert Doisneau, Robert Capa, etc…) com as personagens da LEGO. O génio que merece beijinhos chama-se Mike Stimpson, e para alem da originalidade, tenho de lhe tirar o chapéu pela qualidade das imagens que publica. Podem ver mais imagens na galeria.