terça-feira, 16 de março de 2010

Mais um dia na refinaria

Isto de trabalhar numa refinaria tem que se lhe diga: entrar, e mais difícil que entrar na Imprensa Nacional Casa da Moeda. La dentro, e preciso (literalmente) mas se conseguir andar para trás e para a frente. Sinais de perigo, explosão, e afins há em todo o lado. Ate abrir a porta do edifício tem manha: temos de carregar num botãozinho que há de lado, que acciona o motor de abertura da porta: se alguém pisar os tapetes em frente a porta, o movimento e interrompido. Eu, o maçarico de serviço, perguntei: “Para que tanta coisa para abrir uma porta? –E que isto e uma porta anti-explosao. Se aquilo que esta ali fora rebentar, isto e suposto proteger-nos.” Ah pois, sinto-me muito mais confiante. Sobretudo quando “aquilo que esta ali fora e uma torre de 30 metros de altura, cheia de tubos com saídas de vapor que fazem a estrutura parecer um misto de cobra com dragão. Claro que se aquilo rebenta, tenho a sensacao que do edifício onde estamos a trabalhar, so fica o sitio. Mas adiante.
Isto e um sitio de homens de barba rija. Os “operadores” são os tipos que andam “la fora” com equipamento de segurança: capacetes, orelhas de mickey (alguns), uns fatos de ski, e botas de biqueira de aço que fazem as minhas botas de montanha tamanho 45 parecerem umas sapatilhas de ballet. O cheiro de alguns deles e…como dizer… anestesiante. As mãos de alguns operadores são autênticos portentos: como diz o meu chefe, quando teclam, carregam em 4 teclas de cada vez. Os checos não são especialmente grandes, sobretudo para alguém que vem da Holanda. Mas estes tipos teem um ar sólido, robusto. O sitio onde eu trabalho, e o jardim de infância ca do sitio: a sala de engenharia. E aqui quem um monte de totós com borbulhas se junta (ou melhor, se empilha) para fazer a manutencao dos sistemas que põem isto a trabalhar. No resto do edifício, esta a sala de controlo, que parece uma copia da ponte de comando da USS Entreprise, do Star Trek. Não fosse o Capitão Spock ser substituído por um operador de 2mx2m. A tecnologia que esta de facto na sala de controlo, mesmo numa baiuca de uma refinaria checa, e impressionante. E verdade que eu trabalho para a empresa que faz os sistemas de controlo, mas nunca tinha visto ao vivo e a cores uma sala de controlo em operacao. Cada posto de controlo tem 6 ecrans de 20 polegadas, montados por cima da cabeça do operador. Por baixo esta o teclado, o rato, uma consola de botões dedicados – que mais parece um teclado para crianças- um conjunto de botões com uma capa protectora de plástico por cima, e um telefone VERMELHO. O que me disseram e que quando aquele telefone toca, não e concerteza o António Sala a fazer a chamada do Jogo da Mala, e tem de ser atendido aconteça o que acontecer. Na minha terra, isto significa: se aquilo toca enquanto eu ca estiver, bato o record dos 100 metros para chegar ao portão e sair daqui o mais depressa possível.
Ainda assim, acho que o maior risco da refinaria e alguém estar junto do portão perto da hora da mudança de turno. Como qualquer estrutura deste género, a forca laboral trabalha por turnos. Aqui, há um turno das 6h as 14h, e outro das 14h as 22h. Eu estava a chegar do almoço perto das 14h (sim, na Rep. Checa há almoço em condicoes) e quase fui atropelado por dezenas de operadores em fúria, a pe, de carro, de bicicleta, de mota…. Acho que o único veiculo que não saiu aos tropeços das portas das refinarias foi um tractor. Mas deve ter sido porque não estava a prestar a devida atencao.
A viding de um informático por aqui – entenda-se dentro da sala de engenharia- não e muito diferente da realidade de qualquer outra empresa. Instala o software, passa o CD, pergunta se o cabo tem rede. Nos estamos ca para instalar a nova versão do software de controlo, e portanto temos que esperar que montem as novas maquinas, testar os cabos, fazer as 500 configuracoes necessárias para podermos por tudo a funcionar. E aqui as coisas não acontecem depressa. Afinal, isto e uma empresa publica.


O hotel -por seu lado- melhorou. Finalmente, o quarto esta a uma temperatura razoável, a bicha do chuveiro já não perde 80% da agua pelo caminho, e já tenho luz dos 2 lados do candeeiro da casa de banho. Claro que ninguém se deu ao trabalho de fazer a cama em condicoes, nem de substituir o copo onde eu no dia anterior bebi laranjada. Isso não interessa nada.
Como hoje já não éramos so 3 no hotel, as 7 da manha já havia pequeno-almoco pronto. Claro que houve os seus precalcos. Os ovos mexidos/estrelados/bacon/salsichas estavam em tabuleiros aquecidos, havia as carnes frias também, obviamente não faltavam os classicos pimento/pepino/tomate, e queijo. So que estava INTEIRO. E sem vislumbre de tábua ou faca nas imediacoes. Será que sou suposto cortar o queijo com golpe de karate? La tive eu de me remeter aos triângulos de Vache-qui-rit. E pão? Pois, quase que tive de invadir a cozinha para conseguir o pão. E acucar para meter no café? Escondido atrás do bar.
Será que sou eu que sou rezingão as 7 da manha? Ou pedir pão e acucar ao pequeno almoço e pedir algo de anormal?
Com um pouco de recuo, isto esta a melhorar: o duche já esta mais que bom, já faço consigo ver a barba, e já há algo que se coma quando se vai para o pequeno-almoco.
La para o final da semana, já não devo ter nada que reclamar. Ou então já me habituei a isto. Ao menos, estou a tirar a barriga de misérias das sanduíches holandesas. A comida aqui e boa.