terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Comecar a semana em beleza

Depois de outro fim de semana blitzkrieg em Lisboa, ja com laivos de natal, toca de repetir o ritual madrugador do voo TP668, das 7h45. Desta vez, a sala de embarque era diferente: será que finalmente iriamos passar a embarcar por manga em vez de apanhar o Tó Carro para chegar ao aviao? Era bom. Nao era no mesmo sitio, mas apanhamos o To Carro a mesma. Delirio matinal, que querem... As 6h45 da manha, nenhum portugues está com as meninges a carburar convenientemente.
Já dentro do aviao, com o atraso costumeiro (do avião, note-se). o comandante comecou a despejar uma grande lenga-lenga, a avisar que estavamos atrasados, e que se devia a dois passageiros vindos de Bogotá, e cujo vôo estava atrasado. Se demorassem muito, teriam de descarregar as malas, por razoes de seguranca. Passado uns minutos, viu-se chegar um To Carro gigante, de onde saiu um casal de Apaches carregados de sacos de plastico gigantes. La subiram a bordo, e de facto os sacos de plasticos eram tao grandes que as hospedeiras tiveram de guardar aquilo algures la pra dentro, que nao cabiam nas bagageiras normais.
E la arrancamos nos pra Schiphol.
A chegada, saio do aviao, e comeco a palmilhar o Terminal 2 rumo a saida. Quando estou a chegar ao hall dos freeshops, um gajo passa a minha frente com uma fita igual ao da Brigada de Transito, e bloqueia o terminal. Espantado, olha mais para a frente, e estava alguem deitado 4 metros mais a frente, rodeado de segurancas. Como estava a chover, todas as pessoas estavam com os blusoes de chuva verdes e amarelos fluorescentes do aeroporto de Schiphol. Pouco depois, chegou um medico a civil, que comecou a comandar as operacoes de reanimacao. Eu nao percebo -e sinceramente quero continuar a nao perceber- nada de reanimacao, mas dava para perceber que aquilo nao tava facil. Entretanto, este incidente tinha acontecido no unico sitio que pode bloquear totalmente o terminal 2. 10h da manha num dos aeroportos mais dinamicos da europa, claro que podem imaginar que se tinha acumulado uma multidao de cada lado do tunel. No entanto, um silencio sepulcral. Ja de si, coisa rara num aeroporto, muito menos quando se provocam atrasos. As pessoas ate se afastavam para telefonar a dizer que estavam atrasadas. As unicas pessoas que falavam normalmente era a equipa que rodeava o infeliz viajante, e a seguranca, que estava constantemente agarrada aos walkie-talkies. Os "reforcos" das equipas de socorro nunca vieram de dentro do edificio do aeroporto. Vinham de carrinha ate uma manga que se encontrava ali perto, e subiam pelas escadas. Assim com o primeiro medico, e com a ambulancia peso-pesado que chegou mais tarde. Ao todo, as manobras de reanimacao tiveram 3 fases bem distintas, e estiveram pelo menos 10 pessoas envolvidas. A seguranca, finalmente, deu ordens para as hospedeiras de terra segurarem umas mantas na vertical dos dois lados do incidente. Correcto, mas apenas tornou o espectaculo mais escabroso. Continuava-se a ver os pes da vitima a oscilar ao ritmo da massagem cardiaca, e a ver os movimentos da equipa de reanimacao a tirar os instrumentos da mala. A situaca era delicada obviamente, mas a precisao e a frieza da ultima equipa a chegar ao local e que deixou uma estranha sensacao. Eficazes, sim, mas tornam todo aquele circo a coisa mais banal do mundo. Experiencia numa situacao destas significa que ja muitos por ali ficaram. E os milhares de passageiros que ali passam nem fazem ideia que alguns deles ficam pelo caminho. Uma coisa e certa: ao ver ao vivo e a cores este genero de situacoes, acabam-se logo os argumentos do tipo "ah e tal, eu prefiro viver a minha vida na boa, se quinar mais cedo, vou de barriga cheia e bemvivido". Nao vi ali ninguem a dizer ao americano gordo "Porreiro, curtiste a brava, assim e q e!" Tudo branco, estatico, laconico. Pela esquerda, apareceram 3 freiras, e mais tarde um padre, juntaram-se a um canto e comecaram a rezar em silencio. Eles bem que lutaram, mas aquele passageiro nao chegou a porta de embarque. Eu nao sabia, mas fiquei a saber da pior maneira, que no andar de baixo das malas da equipa de paramedicos existe um lencol branco.

Desmontado o arsenal, eu e os dois italianos, que me viram e vieram ter comigo, seguimos para a Orange. Para comecar mais uma semana de trabalho, com alto nivel de felicidade e motivacao.


Ja passou..... Passou?
Ao comentar o sucedido com os portugas da LaranjaElectronica, alguem disse que um dos segurancas velhotes da Orange tinha falecido de ataque cardiaco no seu posto de trabalho durante o fim de semana. Sem comentarios...