sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Ida às compras

Na Laranja Electrónica, tudo bate em retirada às 6 da tarde. Não toca nenhum gongo, mas parece existir um alarme de incêncio que faz com que as pessoas -sobretudo loiras- se precipitem para a saída com a chegada das 6 badaladas.
Quinta-feira é um dia especial na Holanda..... As lojas fecham todas às 21h! Tudo pra rua fazer compras. Mais uma vez, lá segui eu o Clã Portuga, e fomos para o Centro. As raparigas entraram em todas as Zaras e derivados, e nós -gajos- fomos mansamente atrás. Haia às 19h de Quinta-feira, é a Rua Augusta em hora de ponta. Vi pessoas de todas as marcas, modelos, tamanhos e feitios. Isto não me acontecia há uns tempos valentes. Há mesmo muito estranja por aqui...
Entretanto, decidi mudar o nome para "Taborda, o Anão". Por 3 ou 4 vezes passaram por mim raparigas loiras, do tamanho do Big John. Eu até simpatizo com loiras, como muitos saberão, mas 1,90m de loira, coisa pra 80 kilos, mais pneu menos pneu, é loira a mais. E, ainda não percebi muito bem porquê, há imensa etnias negras, embora não forçosamente africanos. Restaurante Surinameses, aqui há em cada esquina. Suriname? Claro que toda a gente que isso fica mesmo ao lado da Guiana.....na América do Sul. Já me tinha esquecido que estes caramelos foram a vaga de colonizadores que veio depois dos portugueses: Indonesia, Sumatra, Java, foram todas colónias holandesas. Afinal estes tipos também são um jardinzito à beira-mar plantado, como nós. Faz sentido que tenham algo em comum connosco. A diferença é que neste jardim planta-se cannabis legalmente, e no nosso não. Pormenores...
Como se almoça cedo e mal, às 20h tava tudo a morrer à fome, e fomos em excursão ao BurgerKing. Depois, abancamos numa esplanada gigante, ali perto. Serviço de mesa? Isso é que era bom. Toca de ir buscar! Não sei como, alguém trouxe uma revista Caras, e o prato forte da cerveja (sumo de laranja natural para mim) não foi o tipico pires de tremoço, mas sim as fofocas da Merche. Merche praqui, Merche prali... Julgam que os rapazes é que eram a parte interessada? Nãaaa... Se nós diziamos "mata", as 2 raparigas diziam "esfola"! De facto, algo se passa com o pessoal de cá...começo a acreditar que a Laranja Electrónica é altamente tóxica, depois de exposição prolongada. Ou então já são muitas idas a Amsterdão...

Primeiro dia na Laranja Electrónica

Hoje era o primeiro dia na Orange.
Para não acontecer a mesma barraca de ontem, meia hora antes já la estava plantado à porta. As 10h em ponto, precisão suiça, ligo para quem me ia acolher, o holandês que vai ser o meu superior hierarquico, Eelko Smardijck. Quando vi o bicho, até me arrepiei. Um autêntico marreta! Alto e loiro, como manda o figurino, mas desengonçado como o Peter Crouch, da selecção inglesa de futebol.
Primeira démarche da manhã, encontrar o spot pra me sentar, preencher os milhentos formulários para passar a ter cartão da casa, e ainda instalar o computador. Como computador, calhou-me um calhambeque de 2001. Aquilo não anda, arrasta-se. Mas enquanto as minhas guerras forem mail, word e excel, chega pro gasto.
O marreta já tava a esticar a cana a dizer que podia usar o meu Vaio, mas eu já o mandei pastar, que andar com 4 kilos às costas pra trás e para a frente não piada nenhuma. "Ah e tal, pq és jovem...." diz ele. Eu não me sinto a Madre Teresa de Calcutá,e quando começar a usar as aplicações pesadas logo se vê onde é que vamos parar. Mas amanhã sai um mail para o chefe a dizer que por enquanto chega, mas que a meio do projecto, e com prazos apertados, andar a resolver problemas de hardware é capaz de ser má politica. Já deu para ver que aqui eles são forretas no hardware, sobretudo para os consultores. Tanto que a maior parte dos meus colegas tem o próprio portátil. Assim, não se chateiam.

O ambiente na Laranja Electrónica é super descontraído, tipo faculdade. Jeans e t-shirts em todo o lado. Nem os bosses nem os consultores andam vestidos à pinguim. Há brutais máquinas de café, à pala, com capuccino, café, chocolate... Na cave há um restaurante próprio da Orange, onde dá pra comprar o kit-sandocha, o prato do dia, saladas, frutas, sopas. Não é caro, mas também não é dado. Uma cola, um kit sandocha, uma (mini-)salada, por quase 5 euros. O kit-sandocha requer uma breve ilustração: ha cestos com todos os tipos de pão. Depois passamos a uma vitrine refrigerada onde há os ingredientes pra meter lá pra dentro: fatias de todo o tipo de queijo embaladas individualmente, doses individuais de paté tipo alemão, panados, etc... Depois, na mesa, monta-se aquilo tudo alegremente como se tivessemos na cozinha lá de casa.
Obviamente, fui almoçar com os colegas portugueses que me têm mostrado os cantos à casa, e que ao tuga acabado de chegar da provincia como funcionam os meandros do kit-sandocha. Eu sei ler o que lá tá, mas eles é que sabem o que fazer com aquilo tudo. Sozinho? Ainda hoje lá tava.... :-) Horário do restaurante: das 11h30 às 13h30. Incha, portuga. Ainda não percebi se aquilo é almoço ou pequeno-almoço. Horário mental dos holandes para almoço: do meio-dia ao meio-dia....e vinte. Pois, não é gralha é mesmo almoço-lusco-fusco para eles. Uma mera formalidade. Claro que o clã tuga leva a sua latinidade avante, e HORA de almoço é HORA de almoço. Hora de kit-sandocha neste caso. Porque nem mesmo o meu colega Falcão demora uma hora a comer uma sandocha, há que fazer algo no tempo restante. Numa sala ao lado do restaurante, existem para uso gratuito do pessoal, 2 mesas de matrecos e uma de ping-pong. Se aquilo fosse na FCT, era a guerra civil naquela sala. Curiosamente, só nós é que lá tavamos. Estes holandeses definitivamente não têm a mesma maneira de viver que nós. Bom, se não joguei matrecos enquanto tava na faculdade, tinha de jogar um dia... Estava escrito. O resto do ritual é o café no segundo andar, embora nós estejamos no primeiro, porque é lá que fica a sala de fumo. E, entre nós, há uns quantos viciados. Simpáticos, os laranjinhas, fizeram uma sala de fumo que dá para um terraço. A parte de ter terraço tudo bem, sobretudo quando não chove, mas a sala propriamente dita parece uma sala de chuto do casal ventoso. Deve ser a única sala de toda a Orange que tem um aspecto menos limpo. Menos limpo? Seboso! Até o quartel de Porto-Santo, uma pocilga, tinha melhor aspecto que aquilo.
Depois lá voltamos ao trabalho. Ligar-me à rede, esperar pelos emails, etc... Dia da praxe. Stresses? So com o escritório de Lisboa, porque aqui tudo anda sobre rodinhas. Bom, o Marreta podia ser menos bronco, e perceber mais daquilo, mas afinal daqui a uns dias deixo de precisar dele. A ver vamos, como diria o ceguinho...

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Conhecer a Altran NL

Ontem era suposto ter uma reunião no edificio-sede da Altran às 14h, com alguns hotshots do projecto em que me meteram. O meu boss de cá, o Roman, ligou no dia anterior à noite a dar as indicações para lá chegar. Aquilo fica numa cidadezinha perdida nos arrebaldes chamada Hoofddorp. Tudo correu tão bem ou tão mal, que cheguei ao spot com 1h30 de atraso: tram errado, estação errada, meia-hora de espera pelo comboio, falta de moedas para a maquineta dos bilhetes.... Tudo a correr bem! Sorte a minha, a reunião foi desmarcada, e eu estive a tratar de burocracias holandesas e a receber o briefing do projecto directamente do Roman.

No regresso, aproveitei para dar uma voltinha por Haia-centro. Aqui as lojas fecham às 18h, o que põe o belo do portuga logo a bater mal. Sol, bom tempo, e tudo fechado. Aliás, a unica vez q toparam a milhas que eu era um reles estranja e me falaram directamente em inglês foi quando entrei com o maior desplante numa loja de telemóveis que ainda tinha as portas abertas às 18h10. Criiiiiiiiiiiiiiime! Foi logo o berro do fundo da loja "Sorry, we're closed!". Encontrei o MediaMarkt numa transversal de uma avenida principal, que -pasme-se- só fecha às 20h. Dei a voltinha dos tristes pelo meio das electrónicas do costume, e meti-me a caminho de casa. Passei por uma loja turca, e resolvi tirar a barriga de miserias com um Doner Kebab como deve ser. Bom, pela primeira vez, empanquei na lingua: o turco só falava turco e holandês, coisa que eu ainda não falo, pelo menos por enquanto. Pior ainda, eu só sabia pedir Doner Kebab, que pelos vistos aqui não há. Acabamos por negociar pizza turca (que é enrolada) com kebab, que vai parar a um burrito mexicano com sabor turco. Ou era da fome, ou era bem bom!

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Jantar com os tugas

A minha anfitriã-designada, a Ana, telefonou-me a dizer que tinha recebido ordens do chefe para me mostrar como é que as coisas funcionavam por aqui e para organizar um jantar entre os portugas que por cá andam.
Assim foi, ela veio até este fim de mundo, pq não estou perto do centro da cidade e sim ao lado da praia, e aí começou a aula prática.

Lição 1: andar de transportes

Aqui só ha autocarros, eléctricos, e comboios. Para os comboios compram-se bilhetes normais, para tudo o resto existe o Strippen Kaart. E não, não mete striptease pelo meio, embora varoes metálicos não faltem nos eléctricos. Os bilhetes vêm numa tira gigante, com 45 unidades, com picotado entre elas. Por cada zona, carimba-se na maquineta um quadradinho, mais um, que é a "bandeirada". Nada simples, ao principio faz um bocado confusão, mas agora ja me habituei a andar com o harmonio no bolso. Ponto positivo: aquilo é válido em toda a Holanda.

Lição 2: onde fica a Orange NL

"Tas a ver aquele edificio ali muito ao fundo que diz Orange? É aliiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...." , diz a Ana enquanto iamos no tram 9 a toda a velocidade. Viva o GPS, senão tava bem tramado. Mesmo assim, antes de chegarmos ao centro, o tram faz uma paragem de emergência, com velhinhas a serem projectadas 5 cm pra frente, e as mais novas a aproveitarem para dar uma volta ao varão. Só a mim é que acontecem acidentes de tram; pelo a Ana que tá cá há mais de um ano, nunca tinha visto nenhum.

A janta

Como era noite de Liga dos Campeões, joga o Benfica e o Porto, e afinal somos 4 rapazes e apenas 2 raparigas, a escolha do restaurante, recaiu sobre o Pizza Hut. Qual é a relação? É que fica ao lado do pub inglês que ia dar os jogos em directo. :-)
Depois do tradicional pão com queijo, vieram 3 pizzas familiares, e pela primeira vez comi as pizzas que têm queijo enrolado no rebordo da massa. Not bad, not bad...
Aqui ficam as fotos dos tugas perdidos na Orange NL:

terça-feira, 26 de setembro de 2006

Voltinha pelas redondezas

O dia começa bem... As 10h da manhã entra-me um gajo porta dentro com uma chave de parafusos na mão. Olha pra mim, assusta-se, pede imensas desculpas em holandês, e sai. Vou ver quem era o senhor (que pela barba e idade, vestido de vermelho seria o pai natal)... Afinal era o funcionário da manutenção do hotel, que vinha trocar as pilhas da fechadura; sim, porque os leitores de cartões magnéticos não vivem do ar. Lá lhe disse para começar a falar inglês, e depois para acabar de trocar as pilhas da fechadura. 5 minutos depois, ele vai-se embora,e eu pronto para continuar a roncar. Era bom... Volta a bater à porta, o pai natal das pilhas, entra de novo intempestivamente no quarto, mete-se à procura de alguma coisa no chão, encontra uma chave sextavada do tamanho de um palito, volta a pedir imensas desculpas numa lingua estranha, e torna a evaporar. Mal deu tempo pra bocejar, quanto mais abrir a pestana...

Quando finalmente acabei a minha ronda de sono, decidi ir dar uma voltinha pelas redondezas. Agarrei no meu fiel companheiro - vulgo GPS- e atiro-me à estrada. Direcção: praia.
E não é que isto tem praia mesmo? Com areia, mar, ondas, e esplanadas? Aliás, deviam agarrar nisto e fazer um exemplo sobre como aproveitar muitas zonas da Caparica. Como era inicio da tarde, só havia velhotes a passear. E -finalmente- o primeiro contacto com a Holanda profunda: duas truckdrivers de meia idade e tamanho XL, a passear de mão por entre os normais casalinhos de velhotes a passear os cães a pilhas. Em situações normais, isto faria perder a fome a qualquer normal portuga, mas neste caso a fome era mais que muita, que isto de viajar puxa pelo cabedal e lá me dirigi para o BurgerKing à beira-mar plantado. Tudo normal, Whooper é Whooper, excepto o molho da salada que ao sair da caixinha era um cubo de gelatina. Que raio de molho de salada.

Enchido o bandulho, que roncava há horas, fui dar uma volta pelo resto do centro, e procura um supermercado, para comprar alguma comida e água para ter no apartamento. Encontrei um esboço de centro comercial, com um minimercado lá dentro. Pobreza franciscana, para quem anda habituado às infraestruturas da Sonae. Lá meti eu 3 garrafas de água debaixo do braço, 1 de cherry coke e outra de vanilla coke. Para quem já me conhece, sabe que eu experimento tudo o que é exotico. Coisa estranha: os iogurtes aqui são carissimos. Isto não é suposto ser uma terra de vaquinhas e ervinhas? Como é que um iogurte grande da Danone custa quase 5 euros?

E lá continuei a minha volta pela cidade. Bicicletas aos montes, de todas as marcas, modelos e feitios. Com mais ou menos ferrugem, pedais prá frente, com cestos, buzinas... Em matéria de bicicletas, isto é o circo! Cúmulo dos cúmulos, até vi um estacionamento privativo para bicicletas, com tarifa diária e vigilante! E agora, pergunto eu, para quando o estacionamento subterraneo para bicicletas? :-)

Isto de facto não é lingua de gente. Com alguns anos de alemão em cima, é trivial para mim ler o holandês... mas perceber o q eles dizem? Pior que açoreano... Eu nem consegui ainda descobrir como é que dizem "bom dia" ou "olá", nem o vulgar "adeus e obrigado". Ainda por cima eu devo ter cara de holandês porque eu ande aqui aos paus com cara de turista, e GPS na mão, insistem todos em falar holandês a 100 à hora comigo. Depois de alguns segundos de cara de parvo, eu lá peço para trocarem o chip para inglês, e tudo rola normalmente. Facto é, que aqui toda a gente fala inglês, do merceeiro ao padeiro, e sem falhas. O inglês é mesmo uma segunda lingua para esta gente. E julgava eu que alemão era dificil de aprender.... Agora calhou-me na rifa alemão-com-sotaque-açoreano.
Mas isto deve ser karma deste dias. Ao ser revistado no aeroporto da portela, ontem, até o PSP falou comigo em inglês. Humm... Será que fiquei com cara de holandês com tanto fumo de charro que apanhei na ultima vez que fui ao Bairro Alto?

Excusam de continuar a perguntar....

Não, ainda não fui à Rua da Luz Vermelha, nem lá devo ir tão cedo!!! :-)

Day Zero @den Haag

Depois de chegar à 1h00, e ter pago 105 euros de táxi, bati à porta do hotel. Claro que não tava lá ninguém, nem o meu quarto era ali. Claro. Não fosse o belo do Holandês Rastejante ter ligado a avisar que ia chegar tarde, tinha dormido na rua. Afinal o meu quarto é um apartamento noutra morada, que o GPS (esse salvador da pátria disse que era a um kilometro dali), e ficou combinado com a senhora do hotel ) o original que ela me dava o código da porta, eu entrava na recepção sem fazer barulho, e lá estaria a minha chave do quarto junto com a morada definitiva. Assim foi. Simples? Tão simples que até o taxista ainda deve tar a coçar a cabeça quando lhe tentei explicar o filme. Mas já cá estou!
O taxista era um puto turco que estudava economia durante o dia, e era taxista à noite. Entre conversas de Doner Kebap e Lahmacun (pizza turca) dos meus tempos na Alemanha, ele ofereceu uns biscoitos de chocolate q souberam a ginjas! :-)
Chegado à morada definitiva, toca de alancar 3 andares de escadas em caracol com o meu saco-porta-contentores às costas? Elevadores? Isso deve ser coisa pra turistas.... e eu tou cá pra trabalhar. Entro no quarto, umas águas furtadas, e descubro uma cama de casal, daquelas que recolhe para dentro de um móvel. Uma lareira sem buraco para meter lenha, uma kitchenette e uma televisão. Nada mau. Pera lá.... falta aqui qqcoisa! Casa de banho? Cadê??? Passo em revista o patamar do meu andar, e uma das portas diz "WC" em vez de "apartement"... Tento entrar, e nada. A porta só abre com o mesmo cartão magnético que abre a porta do quarto. Lindo serviço: casa de banho do povo, mas selectivo. Isto vai dar um novo sentido à expressão "enviar um fax". Mas pronto, aparte o pormenor do acesso cibernético, tem um aspecto bastante aceitável.

Fase 2: ligar o pc, e arranjar rede. Demanda dos templários! Existem milhares de redes sem fios aqui, todas elas codificadas. Como sou cliente do kanguru da TMN, e por conseguinte, da pt-wifi, deveria conseguir ligar-me à rede da KPN que tem um hotspot mesmo debaixo da janela do meu quarto? Julgam que o login funcionou? Pois, ainda tou à espera. A minha safa é que havia por aqui uma rede "Apple Networkf62f02" que não estando protegida, me deixou passar. E cá esotu eu a bloggar. Juro que nunca mais digo mal dos Apples...

Amanhã, o meu boss deu-me o dia livre, e à noite vou conhecer o pessoal português que também anda por aqui. A ver vamos, como diria o ceguinho... :-)