domingo, 1 de outubro de 2006

Primeira ida a Amsterdão

A primeira ida a Amsterdão foi combinada à saida da Laranja Electrónica. 23h na estação central de Amsterdão. Eu tinha de ir pra casa tratar das papeladas do fds e do contrato em Portugal, e seguia no avião das 7 da manhã para Portugal.
A ideia original era deixar a mochila com o portátil e alguma outra tralha no aeroporto e seguir para Amsterdão sem nada às costas. Pois, as coisas atrasaram, e eu não tive tempo de parar no aeroporto, tive de ir directo para Amsterdão.
Na gare, fui ao balcão dos bilhetes e pedi um bilhete para o aeroporto, via Amsterdão. Para quem não conhece a configuração aqui do spot, isto equivale a chegar a Santa Apolónia e pedir um bilhete para Coimbra via Porto. O gajo nem pestanejou. "12 euros!" incha, portuga-habituado-a-precos-da-CP.
Enquanto eu esperava a minha vez, estava em 2 grupos de blacks-armados-em-Puff-Daddy, e o grupo de trás tava a mandar que o da frente estava a demorar muito tempo. O funcionário atrás mando-os calar com maus modos, e ia rebentando a terceira guerra mundial. Curiosamente, tudo aos berros, mas ninguem se mexeu. Eu até achava que tava ali mal, e já me estava a preparar para a bela cena de wrestling, com o revisor a saltar pela janela de vitral, e a policia de choque a entrar em cena para um ballet de bastão em 3 actos. Mas não, não passou dali. Atrás do grupo de blacks, estavam senhoras de meia-idade, miudas de 20 anos loirinhas, e mais uns quantos civis. Ninguém pestanejou, portanto, aquilo devia ser normal. Este gajos são mesmo muito estranhos.

E pronto, cá fui eu com o portátil às costas para o Circo. Chegamos todos ao mesmo tempo, e para além dos portugueses, tava o Roman, o meu boss francês. Pelo que percebi, ele de vez em quando sai com a malta. Ainda por cima foi ele que tomou a dianteira. Primeira paragem: um bar calmo, com DJ ao vivo, de decoração tipo Gustav Klimt. A caminho, uma das portugas fez-me o briefing: à esquerda tá o Red Light District, à direita tá a zona comercial, etc... Em 400 metros de trajecto comecou a chover aos baldes por 2 vezes, e a trovejar, mesmo quando não estava a chover. No bar propriamente dito misturavam-se miudas arranjadinhas com tipos de rastas, velhadas tipo múmia, e uma coisa, carinhosamente por nós apelidada de "o Bicho", que parecia (sim, parecia, porque em Amsterdão nunca se tem certezas...) uma gaja de meia-idade, de traços meio-africanos, com oculos grossos, cabelo comprido platinado e frisado, vestida com trajes de BTT. Ah, e com headphones. No entanto, quando gostava da música que o DJ passava, punha-se a dançar aos saltos como se aquilo fosse uma discoteca. Quando não gostava, sentava-se e punha os phones como se entrasse em zen.
Charros? Aqui, chamam-se cigarros. No bar, não vi comprar nenhum, não percebi se havia, mas toda a gente sacava de umas caixinhas cónicas com os ditos lá dentro. Os meus tempos de entendedor de cannabis já lá vão bem longe, e só pelo cheiro não percebi se aquilo que circulava à minha volta era forte ou fraco.
Passadas umas jolas, decidiu-se mudar de spot. Ir a uma discoteca chamada Panamá. Apanhámos 2 táxis, e quase que atravessámos a cidade. Ao pé do rio estava um edifício meio betão, meio tenda de casamento, com cores cinzentas e vermelhas. Pusemo-nos na fila para entrar, batemos 15 euros para entrar (só bilhete), fomos revistados dos pés à cabeça. E aqui começou o granel. Eu costumo por os meus comprimidos diários dentro de ovos kinder. E sempre andei pelo mundo inteiro com aquilo no bolso. Claro que no Panamá, a segurança indonésia que me revistou, olhou para aquilo, e chamou um colega, black, de altura normal, mas de largura de portão de quinta. Começaram a falar entre eles, e eu só percebo "....police box...". O black desaparece com os ovos kinder, e eu ali especado a olhar pra indonésia. Ela continua como se nada fosse. Eu pergunto "E atão? Os meus ovos kinder? Demora muito???" Ela ficou a olhar para mim com cara de parva, e eu chamei o black-extra-large.
"Os ovos kinder?" perguntei eu.
-"Ah, foram para a Police Box." disse o black.
-"Todas as drogas vão para uma caixa selada pela policia."
-"Mas aquilo são os meus comprimidos normais! Como é que eu faço para ter os meus ovos de volta?"
-"Ah... Não fazes. Aquilo só a Policia é que pode abrir."
Ia começar eu a fazer o belo do luso-escarcéu, quando ele me disse: "Não vais precisar deles agora, pois não? Entao quando saíres, falas comigo ou com aquele tipo de cabelo cinzento, o chefe da segurança." Olhei para a zona da porta, e lá vi o tal chefe. O que o black de largo, tinha este de alto. Este era -apenas- portão de prédio, mas tinha 1,95m. E aspecto de quem tinha feito 3 campanhas na guerra do golfo. Claramente, tinha aspecto de militar.
Bom, dito isto, lá fui eu curtir. Largar a mochila no bengaleiro, e mais metade da roupa, que lá dentro estava um calor infernal. A pista principal fazia lembrar o antigo Indochina em espaço, e o som era música de dança com muito pedal. Boa onda. Estava a haver um evento qualquer com o DJ e alguma relacionada com moda, mas não deu para perceber ao certo o que era. Ao longo da noite foram passando por nós todo o tipo de gente. Altos, baixos, gordos, velhos, top models, ... Um autêntico circo. No entanto, as miúdas deste circo são de facto muito giras. As bebidas não são caras, com a Coca-cola servida a balde a 500 paus, e a cerveja mais ou menos a mesma coisa. Atrás de nós estava um grupo de quarentonas, vestidas como se tivessem 20. Mas nada de passar vergonhas. Aliás, acho que há umas quantas vintonas da FCT que nunca tiveram tão em forma como aquelas anciãs. Um monte de pessoal que claramente estava em Amsterdão de passagem, e mais um monte de estrangeiros que de facto já lá tinha estado antes.
Mudámos para a outra pista, dedicada ao hiphop e ao Reggaeton. De repente, parecia que tinha desembarcado no Harlem. Tudo pessoal seguidor do Puff Daddy, e do Wu Tang Klan. Embora noutro estilo, este DJ também dava cartas. Vejo um tipo passar com o capuz da sweat shirt posto. O tal black-extra-large aparece de nenhures, e diz-lhe "é a segunda vez. Não vai haver próxima." E o tipo lá tirou o capuz e continuou a sua ronda pela pista, agora destapado. Já deu para ver que aqui a segurança não brinca em serviço. Tolerância aqui não falta, e complicado é dar nas vistas, mas não é preciso muito para começar a haver molho.
Mais um bocado e dois dos nossos elementos começaram a acusar o cansaço. Ok, o pessoal foi saindo, buscar as tralhas ao bengaleiro, e eu fui falar com o tal chefe da segurança. "ah e tal, porque não temos maneira de saber se são de facto comprimidos normais ou drogas..." Eu até compreendo, mas ao menos perguntem! Então lá começa o luso-escarcéu, e o chefe da segurança sempre a retorquir que não pode fazer nada, porque só a policia mexe ali. Quando eu lhe disse para então chamar a policia que eu não arrancava dali sem os meus ovos kinder, é que ele percebeu que eu não tava a dar a treta e então mudou de côr. Desapareceu 1 minuto, voltou com 2 fitas de imobilizar pessoas (vulgo aperta-cabos) e um rolo de fita macgyver. encaixou as duas fitas, meteu uma bola de fita cola na ponta e pôs-se a enfiar aquilo na Police-box, que tem aspecto de uma caixa de correio blindada. Por milagre, um dos ovos kinder saiu à primeira. O segundo não... Então começa a sair saquinhos de pó, saquinhos de comprimidos de ecstasy, coisas que nunca tinha visto na vista mas que de certeza não eram nada de parecido com os meus comprimidos das alergias e da tiróide. Só aí é que eu percebi o nível de cenas que ali iam parar. Claro que os charros entram como se fossem tabaco, mas pózinhos brancos não podem entrar. Entretanto apareceu um chinês a mandar vir em holandês, e os tugas que estavam lá fora sem perceber a cena já estavam a bufar. Então decidi pôr-me a andar. Afinal, comprimidos destes é o que não faltam cá por casa, e ninguém morre (pelo menos eu) com um fim de semana com febre dos fenos.
Apanhamos o táxi de novo para a Central Station, e perdemos o comboio por 2 minutos. Era por isso que os tugas tavam a bufar. Àquela hora, só há comboio para Haia a cada hora, portanto iamos gramar 58 minutos no cais da estação, a cair de podres. Claro que -por dentro- eles deviam tar a rogar-me pragas, mas lá abancámos todos num banco corrido, à espera que o tempo passasse. À noite, para evitar confusões, o controlo do s bilhetes faz-se antes do cais de embarque para evitar que pessoal sem bilhete vá armar confusão lá para baixo. Aí é que o revisor achou estranho o meu bilhete: "entao este gajo tá no porto, e quer usar um bilhete que diz Lisboa-Coimbra?"; já se esperava o granel. Chamou o chefe, que viu que aquilo era estranho, mas era mesmo assim, e mandou-me seguir. Claro que os tugas que nunca se meterem nestas alhadas, já começavam a coçar a cabeça sobre como é que eu me conseguia meter em tanto confusão, sobretudo sem beber. Nem fumar!
Passado uma hora de seca, lá fomos no quim-bóio. Eu fique em Schiphol,o aeroporto, enquanto os tugas seguiram para Haia; e aqui começava o resto do meu fds...