segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Fds / parte2

Puro fds de outono. Meio chuva, meio sol. Den Haag ao fds tem o centro ao barrote, faça que tempo fizer. A única coisa que muda é se os chapéus e os capuzes estão em uso ou não. Ainda para mais, aqui os chapéus-de-chuva são de todas as cores. O arco-iris não está no céu, mas sim um palmo acima da cabeça. Proeza é atravessar uma das apertadas ruas comerciais sem levar com uma haste metálica no olho. E parece que ao fds as lojas são tomadas de assalto: filas para pagar no H&M, Zara e afins... As lojas de artigos electrónicos e telemóveis também não estão menos vazias,e os vendedores não têm mãos a medir.
Fds também é altura de tratar daquilo que não há tempo durante a semana: neste caso logistica pura e dura, porque o meu frigorifico não arrefece, e o aquecimento não aquece. E a porta continua a parecer a turbina do jumbo 747, mas isso não há nada a fazer pelo que me disse um vizinho. Curiosa personagem este vizinho: depois de 2 dedos de conversa, ele tinha-me dito que tinha estudado direito, mas que nunca tinha exercido porque tinha montado a sua própria agência de viagens. E lá estive meia hora à conversa com um cinquentão de cabelo branco, muito curtinho, com um brinco na orelha. Curiosa personagem, pelo comum padrão português.
Na sexta cheguei a casa, e só faltou vestir o fato de macaco: o desafio era perceber como pôr a caldeira do aquecimento a fungar. Uma hora de torneiras e botões depois, aquilo começou a fazer barulho. Afinal, sêmos ingenhêros! Aquilo fez um chiqueiral a noite toda, e de manhã até teve de se desligar porque eu acordei ensopado em suor.À noite é que foram elas: voltar a pegar o bicho? Nem pensar. Desta vez calou-se, para não mais voltar a piar. Pior! Desta vez a caldeira mostrava um código de erro, e as águas sanitárias também tinham ido à viola. Banhinho frio que faz bem à saúde. Mas aqui água fria é mesmo de arrepiar.
Sábado à tarde tinha um jogo de squish-squash combinado com o cromo de serviço, e foi com todo o prazer que voltei a ser desancado à grande e à francesa. Mas afinal, essa é a ideia da coisa. A bola que tinhamos usado até agora tinha dado o berro,portanto usámos uma nova, que salta um booooooooooooocadinho mais, e que portanto não nos faz correr tanto. Neste caso, só sai de lá com a t-shirt a pingar, em vez de ser t-shirt-calcoes-e-meias. No fim do jogo, uma première para mim: tomar banho num ginásio. Sim, eu raramente tomo banho nos sitios onde faço desporto,pelo menos desde os tempos em fazia natação. Sempre preferi trocar de roupa e vir tomar banho a casa. Desta vez, teve de ser... ginásio. Ao fds o ginásio fecha às 17h, e portanto fui dos últimos a sair de lá. Uma das vantagens foi que consegui secar o cabelo em stereo, ou seja, com 2 secadores ao mesmo tempo. Bom, os secadores podiam uma treta, mas a verdade é q o cabelo secou num instante!
Fresco que nem uma alface, foi tempo de ir ter com mais pessoal ao centro para o capuccino de fim-de-tarde. Numa brasserie, descobrimos que o staff era todo portuga. O dono veio tagarelar connosco, e disse-nos que já lá estava há vinte anos, que tinha outro restaurante -italiano- ali perto. Também falou da zona, que a praia era gira e até era fixe no verão, que os marroquinos é que davam água pela barba nesta zona, e até me deu umas dicas sobre o spot onde arranjar uma scooter. Entretanto, viamos passar umas coisas comestiveis que me ficaram debaixo de olho. Mais perto da hora de fechar houve um corropio de loiras que vieram dizer adeus ao dono.... Ele fez questão de referir que eram as vendedoras das lojas em volta que se vinham despedir. Lá simpáticas eram elas. Uma das loiras entrou e ficou. Ai ele parou a conversa e apresentou "a mulher e sócia". Uma loiraça que me pareceu uma excelente razão para esta aqui a gramar chuva e frio há vinte anos...
O plano para jantar era conhecido como Operação IKEA: um restaurante escandinavo, que aparecia no meu guia da naite aqui da zona, o SpeciaBite, chamado Eyja. A caminho da dita morada, vejo que as lojas chiques começam a dar lugar a coffeshops, e um número crescente de turcos e aparentados a cruzarem-se connosco. Toda a gente diz mal do meu GPS, mas a realidade é que sem o dito bicharoco ainda hoje távamos à procura daquilo. No caminho, reparo que estamos a escassos metros de umas das Red Zones de Haia. Mas à ultima da hora virámos, e afastámo-nos da zona critica. Zona Vermelha, não...era mais zona cor-de-laranha. E eis que chegámos ao dito restaurante sugerido. Um espaço decorado todo de branco, com o staff todo de preto, cheio de velas, como nos catalogos da marca de móveis sueca. A comida, de nome pomposo, era servida ao mais puro estilo nórdico, cheia de molho de natas, e compota de mirtilos, como as famosas almondegas do Ikea. Para comida nórdica não estava nada mal, mas o meu "pork sirloin stuffed with ...." não passava de carne assada com passas no meio e 3 tipos de molhos em volta. Não sei se era da fome, mas evaporou tudo -a quantidade também era nórdica, note-se - e ainda por cima soube bem.
As sobremesas foram um mix de tudo um pouco,e as panquecas islandesas (que o restaurante faz questão de frisar que não pertence à Escandinávia) ficaram debaixo de olho para mais tarde recordar.
Next stop: TABOO. Ao lado da Fair Trade Shop, descobri um bar no qual nunca me aventuraria sozinho. Vi aquilo durante a semana, meio vazio, com luzes roxas e cheio de cortinas... Num sitio destes, isto significa que por muito que seja a música, um gajo decente e de boas familias não entra sem guarda-costas! Desta vez, e com gente na rua que nunca mais acabava, lá fomos descobrir o spot. No piso terreo, há mesas comuns e um balcão corrido; subindo uma escada em caracol acede-se a uma galeria de camas iluminadas por focos de halogéneo. O tipo que nos atendeu era americano, ou muito perto disso, e devia ter dado nas anfetaminas, porque estava com o gás todo. Como este percebia do que estava a fazer, pedi-lhe uma coisa fresca, sem alcool, e que não fosse refrigerante de lata. Ele teve de puxar pela moleirinha, mas lá me arranjou uma especie de capuccino gelado com leite chocolatado e chantilly. De facto, estes tipos dominam em matéria de produtos lacteos. Não percebem um carapau de café, mas leite é com eles! Claro que beber um balde disto esparramado numa cama e a ler o monte de flyers que circula por aqui tinha de dar asneira: tomei banho de capuccino, pelo que fiquei tipo vaca charolesa, às manchas castanhas e brancas.
Domingo foi dia de moleza, e foi passear para trás e para a frente, badalhoco porque não havia água para o banho. Embora a chover a potes, o calçadão da praia estava cheio de gente, e foi dia de panquecas. À entrada, estava uma equipa de rugby, que devia ser mista, porque havia tantos rapazes como raparigas, e tanto eles como elas pareciam tanque de guerra. Como seria de esperar -e ao contrário do que o comum dos mortais pensa- os jogadores de rugby não são excepcionalmente altos,e este não fugiam à regra. Para holandeses, eram bem medianos. E nem tinham de passar de lado nas portas. A casa das panquecas continua no seu melhor, com dezenas de panquecas (ok,ok, na realidade são crepes à francesa) por onde escolher; pormenor engraçado, nas panquecas de sobremesa, raras são as que têm chocolate derretido, enquanto que as frutas frescas estão em quase todas as hipoteses. Mas isto de comer morangos em pleno Outubro, enquanto chove na praia tem algo que se lhe diga, pelo menos para o Portuga convencional.
Hoje é dia de ir cedo para a cama... que amanhã vou fazer o impensável: acordar extra-cedo, e ir ao ginásio. não só fazer um cadinho de remo, como tomar banho e fazer a barba para aparecer impec na LaranjaElectrónica!